Homilia – 24º Domingo do Tempo Comum (12/09/2021) – “É impossível viver a experiência de fé sem passar pelo caminho da cruz!”

Meus irmãos e minhas irmãs, neste mês dedicado à Bíblia somos convidados a valorizar ainda mais essa Palavra de Deus que se traduz em nossa vida e em nossa realidade.

 

Este ano, celebramos os 50 anos da instituição do Mês da Bíblia pela CNBB e somos convidados a refletir sobre a Carta aos Gálatas.

 

A Carta aos Gálatas é bem pequena, tem apenas 6 capítulos. São Paulo a escreve a todas as comunidades que estavam na Galácia durante a sua terceira viagem missionária. Nesta Viagem, ele visitou as comunidades da Provincia da Ásia: Macedônia e Acaia, região onde hoje se localiza a Turquia e a Grécia. Isso aconteceu no fim no do 57 d.C. quando ele estava passando por Corinto.

 

Esta carta traz um conteúdo especial para a Comunidade dos Gálatas, pois trata de dois grandes assuntos: os judeus e os pagãos recém-convertidos ao cristianismo.

Havia um grande conflito: os judeus traziam muitas regras e preceitos de sua religião. Já os pagãos não tinham nenhuma regra religiosa. Assim, os judeus convertidos queriam que os antigos pagãos guardassem suas leis, principalmente a circuncisão e a lei do puro e impuro.

 


A carta aos Gálatas é uma das melhores reflexões bíblicas sobre a liberdade humana e a força libertadora de Jesus Cristo.


 

Uma outra curiosidade sobre a Bíblia: o Antigo Testamento foi quase todo escrito em hebraico. Este idioma é escrito da direita para a esquerda, ordem inversa à que utilizamos no português.

 

Outros livros foram escritos em aramaico: Esdras, Jeremias e Daniel e outros ainda, em grego: Tobias, Judite, I e II Macabeus, Baruc, Sabedoria e Eclesiástico. Todo o Novo Testamento foi escrito em grego.

 A Palavra de Deus percorreu muitas dificuldades para poder chegar às nossas mãos. Do último livro escrito no antigo testamento, Malaquias, até o primeiro livro do Novo Testamento, Mateus, passaram-se 400 anos.  

 

A Bíblia leva-nos a Roma

 

Há também uma diferenciação entre a Bíblia Católica e a Evangélica. Nesta, faltam 7 livros, os 7 escritos em grego e que já foram mencionados.

Quando Lutero decidiu traduzir a Bíblia para o alemão não considerou estes 7 livros no Antigo Testamento, pois para ele, somente os livros escritos em hebraico eram importantes.

 

No entanto, estes livros também são muito ricos! No Eclesiástico, por exemplo, é trazida a experiência da comunidade e o livro da Sabedoria, que nos diz que acima de tudo, toda a sabedoria vem de Deus!

 

Por isso, devemos estar atentos à Palavra de Deus para que cada vez mais despertemos a curiosidade e o amor por esta palavra que percorreu tantos caminhos para chegar até nós!

 

Na Primeira Leitura (Is 50, 5-9a), o profeta Isaias nos fala do Servo Sofredor. E quem é este servo sofredor de Deus?

 

Os judeus, naquela época, tinham uma ideia triunfalista do messias. Eles esperavam um grande rei que devolveria toda a glória que eles haviam perdido e resolveria aa todos os seus problemas. Nunca tinham imaginado que o messias viria em uma condição como a nossa: simples, humilde, pobre e muito menos, que passaria pelo sofrimento e pela cruz.

 

É exatamente aqui que conseguimos identificar a pessoa de Jesus! Hoje, o Evangelho (Mc 8,27-35) nos permite esta reflexão para compreendermos em profundidade quem é Jesus: Ele é o Messias Salvador, mas é também o servo sofredor!

 

É por isso que quando está caminhando para Jerusalém Jesus pergunta: “quem dizem as pessoas que eu sou?”.

 

Notemos que as pessoas não têm claro quem é Jesus. É apenas um homem, convocado por Deus e enviado ao mundo como um dos profetas! Mas, para outros, Jesus é o Messias, o Libertador esperado de Israel!

Por isso, a resposta de São Pedro é muito catequética para os discípulos da época: Tu és o Messias, o salvador, o filho de Deus!

 

Nesse caminhar de Jesus, Ele explica aos seus discípulos qual a sua missão e esta missão passa pela cruz. São Pedro quer reagir, pois não quer que o Senhor sofra, abrace a sua cruz! E Jesus o critica severamente: afasta-te de mim, Satanás. Esta tua compreensão não é a compreensão de Deus, mas dos homens!

Por vezes, nós queremos um Cristo muito bonito, com uma coroa de ouro e um olhar sorridente e deixamos de lado aquele Cristo ensanguentado, como uma coroa de espinhos e a marca de pregos em suas mãos, pois achamos que tudo isso é muito agressivo!

Festa da Exaltação da Santa Cruz

 


Mas saibamos que todo o caminho do cristão passa pela cruz! É impossível viver a experiência de fé sem passar pelo caminho da cruz! “quem quiser me seguir tome a sua cruz e me siga”, disse Jesus!


 

Um dia, quando eu ainda morava em Brasília, fui a uma farmácia e encontrei uma mulher que me disse: “Padre, eu não suporto mais o meu esposo. Ele é para mim um sacrifício e um sofrimento muito grande!” Eu ouvi todo o desabafo dela. Ela estava exaltada, chorando. Após se acalmar, eu lhe perguntei: “é mais fácil conviver com seu esposo ou com o câncer dela?” Ela começou a chorar mais ainda e disse: “é mais fácil conviver com meu esposo, Padre!”

 

Às vezes, nós reclamamos demais das pessoas que convivem conosco e nem nos damos conta que há males muito maiores!

 

Na nossa vida, não nos omitamos! Tomemos a nossa cruz! Cristo assumiu a sua cruz e não murmurou em momento algum, do contrário, ainda pediu que Deus perdoasse os seus algozes.

 


Em nossa limitação humana, muitas precisamos desabafar, mas lembremos de tomar a nossa cruz e seguir o Senhor!


 

Hoje, podemos nos perguntar: quem é Jesus para mim? Qual a imagem de Jesus que eu tenho? A de um Jesus muito bonito, sem a cruz?

Este não é o messias! O messias é o servo sofredor, que tomou a cruz, levou chicotadas, teve as mãos perfuradas, carregou uma cora de espinhos na cabeça! Se o próprio Cristo teve que abraçar a sua cruz e enfrentar as dificuldades, que dirá nós?

 

Cabe a nós, em meio a tantas dificuldades, sempre confiar na graça de Deus!

 

Na Segunda Leitura (Tg 2, 14-18), São Tiago nos lembra que o seguimento de Jesus se realiza com gestos concretos de amor, partilha, serviço e solidariedade. Seria muito fácil para mim como Padre, atender uma pessoa que chega com fome e dizer: “que Deus te abençoe e guarde!” Difícil é parar para escutá-la e conseguir o alimento necessário para ela levar para sua família.

 

Notemos que em meio a tantas dificuldades precisamos fazer um pouco mais. Nossa solidariedade não pode ficar somente na escuta e na oração, mas em gestos concretos, como nos fala São Tiago.

 

O que significa para nós a cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo? É um sinal de fraqueza ou condenação? Ou é um sinal de libertação e salvação, de uma atitude nova, de compreensão do irmão?

 


Tomemos assim a nossa cruz com tranquilidade, humildade e aceitação!


 

Reflitamos: será que tendemos, como São Pedro, a fugir do sofrimento? Carregamos a cruz de Cristo com revolta e medo? Renunciamos a nós mesmos em favor dos outros? Será que também nós não somos cruzes para os outros?

 

Tomemos a nossa cruz, nossas dificuldades e caminhemos com Jesus, para que possamos celebrar a graça de Deus!

 

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo †

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