Homilia – 1º Domingo da Quaresma (06/03/2022) – “As tentações se apresentam em nossa vida para nos fazerem desistir da santidade à qual fomos chamados”

Meus irmãos e minhas irmãs, este é o primeiro domingo da Quaresma, iniciada na Quarta-feira de Cinzas ao marcarmos nossas frontes com pó para recordar que somos pó e ao pó retornaremos.

Levávamos a cinzas em nossa fronte para recordarmos a importância da humildade e dos exercícios quaresmais: a oração, o jejum e a caridade.

 

A Liturgia deste dia nos convida a refletirmos sobre as tentações: tentações que foram vividas pelo povo da antiga Aliança e pelo próprio Jesus no deserto, antes de iniciar sua vida pública.

 

Diante disso, podemos compreender algumas tentações que se fazem muito presentes em nossa história: a tentação do TER, do SER e do PODER.

 

A Primeira Leitura foi tirada do livro do Deuteronômio (Dt 26, 4-10). Este livro foi escrito com uma finalidade: lembrar o Decálogo e a fidelidade que devemos ter para com o nosso Deus.

 

Neste trecho, somos recordados da tentação do povo que, em diversos momentos, desconfiou da presença de Deus ao seu lado, caindo no pecado da idolatria.

A idolatria era um pecado muito comum. Bastava o povo sentir-se um pouco desolado e abandonado e já buscava deuses que, porventura, pudessem suprir as suas necessidades.

 


A idolatria nos direciona para nossas necessidades e para a busca de deuses que estejam relacionadas a elas.


 

Por isso, Moisés, consciente do que o povo estava passando, convida-o a renovar o seu compromisso da Aliança, lembrando que o nosso Deus é o único Senhor! Um Deus capaz de amar, perdoar e sempre nos acompanhar!

 

Mas, a idolatria vivida pelo povo daquela época não ficou apenas no passado. Ela continua a perseguir o ser humano fazendo-nos esquecer o grande amor de Deus por cada um de nós!

Esquecemos a sua grande misericórdia e queremos buscar outros deuses para substituir o lugar do Deus verdadeiro!

 

Ainda hoje somos tentados a deixar Deus e a buscar outros deuses, permitindo que eles ocupem o Seu lugar em nossa vida!

 

Quantas pessoas não foram conduzidas pelo dinheiro! O dinheiro tem o poder de ir direto ao coração humano, despertando o pecado da ganância!

 

Um outro Deus que pode consumir o coração humano é o desejo pelo poder, em querer decidir sobre a vida e morte do outro.

Nós acompanhamos isso nesses últimos dias através da guerra na Ucrânia, um país que hoje sofre pela ganância da Rússia.

 

O desejo de poder também pode se manifestar na vontade de ser importante, de se destacar. Na vontade de ser admirado e elogiado pelos outros!

 

Na Segunda Leitura (Rm 10, 8-13), São Paulo chama atenção de todos nós que vivemos numa comunidade, assim como chamou a atenção dos romanos que achavam que a salvação era mérito próprio.

 


Não podemos esquecer que a salvação é um dom gratuito de Deus! Não pensemos que obrigamos Deus a nos salvar! Por isso, não basta parecermos bonzinhos e caridosos! Temos que, de fato, vivermos o amor a Deus e aos irmãos.


 

No Evangelho (Lc4, 1-13), vemos as tentações que Jesus sofreu no deserto.

Ao ouvirmos este Evangelho, um pensamento costuma vir à nossa mente: se até Jesus Cristo, o filho de Deus, foi tentado que dirá de nós em nossa fragilidade e limitações?

 


Por isso, devemos perceber que, devido à nossa fragilidade, temos de redobrar a nossa atenção para não sermos seduzidos pelas ciladas do maligno.


 

Logo depois de ser batizado, Jesus foi conduzido ao deserto pelo Espírito Santo. Lá, ele passou 40 dias em jejum e oração e, depois, foi tentado.

 

A primeira tentação feita a Jesus está muito ligada àquilo que nós mais dizemos ser necessário para o nosso corpo: O ALIMENTO!


As tentações são astúcias do demônio para fazer Jesus desistir de sua missão. Elas também se apresentam em nossa vida para nos fazerem desistir da santidade à qual fomos chamados!


 

DESSE MODO AS TENTAÇÕES DEVEM SER VENCIDAS PARA QUE NÃO NOS DESVIEMOS DO PROJETO DE DEUS!

 

As respostas que Jesus deu ao demônio combatem o interesse materialista, os prestígios mundanos e o poder!

 

O que disse o demônio? “Tu não és o filho de Deus? Manda que esta Pedra se mude em pão”.  Ele quer que Jesus tenha uma atitude egoísta!

Jesus supera essa tentação, pois não está preso no egoísmo. Ele não pensa apenas na sua necessidade, na sua fome! Vemos isso quando, mais adiante, Ele multiplica os pães. Ali não aconteceu algo mágico, como o demônio havia proposto: transformar pedra em pães. Há um milagre a partir da partilha: os poucos pães se transformam em muitos para saciar a fome de todos!

 

A resposta de Jesus a essa tentação é muito direta: “não só de pão vive o homem, mas da palavra de Deus!”

 


A Palavra de Deus transforma a realidade, transforma o nosso egoísmo em partilha e nos faz compreender que o projeto de Deus não pode ser ofuscado por interesses próprios.


 

Muitas vezes somos tentados a buscar apenas o pão material, ter coisas e acumular!

Somos tentados de tal forma que pensamos que é preciso comprarmos sempre mais! Há pessoas que tem tanto que já não tem espaço em casa para guardar todas as coisas que possuem. Será que a resposta para isso não deveria diferente? Devemos criar a consciência de que aquilo que nos sobra pode fazer falta para o nosso irmão que não tem nada.

 

O inimigo também apresenta a Jesus uma proposta de poder: “eu te darei todo o poder e riqueza se tu te ajoelhares diante de mim”. A resposta de Jesus novamente é direta: “adorarás ao senhor teu Deus e só a ele servirás”.

 

Ao dizer isso, Jesus também nos ensina a olharmos os pequeninos, pois quando servimos o nosso irmão em suas necessidades é a Deus que servimos: “estava com fome e me destes de comer, com sede e me destes de beber”.

 

A terceira tentação feita a Jesus é muito perigosa! Diz o demônio para Jesus: “joga-te daqui abaixo, pois Deus dará ordens aos seus Anjos para que te guardem”.  Jesus, porém, diz: “não tentarás o senhor teu Deus!”

Meus irmãos, é preciso termos muito cuidado para não vivermos uma fé apenas de sentimentalismos, fundamentada nos modismos, sem comprometimento com a conversão, com a caridade e com a Palavra de Deus! Não podemos querer que Deus se submeta à nossa vontade. Não podemos barganhar com Deus. Muitas vezes, podemos tentar a Deus querendo que ele faça a nossa vontade.

 


As tentações continuam a nos seduzir e muitas vezes, elas até se apresentam disfarçadas de bondade.


 

Fiquemos atentos, pois se até o Filho de Deus foi tentado, que dirá nós em nossa fragilidade?  Não nos enganemos: a tentação vem para nos tirar do foco e nos desviar da nossa missão.

 

Que as nossas respostas sejam conscientes e diretas como as de Jesus. Respostas fundamentadas na palavra e no testemunho, pois isso é de fato um SIM PARA DEUS E UM NÃO PARA O MALIGNO!

 

Neste ano, a Campanha da Fraternidade tem uma preocupação muito grande ao trazer à tona o tema da educação.

Não pensemos que a educação é somente o academicismo. A educação começa no nosso ambiente familiar ao educarmos nossos filhos para a fé, para a vida! Nossos pais foram e são os nossos primeiros educadores pois, mesmo que não tivessem conhecimento acadêmico, nos ensinaram a ser gente!

 

A educação é muito importante e não pode ficar esquecida! Ela não está distante da Igreja, até mesmo porque foi a Igreja quem sustentou o conhecimento. O modelo de escola que temos hoje surgiu na Igreja.

 

O conhecimento não se distancia da fé, pelo contrário! A comunidade dos filhos de Deus não é uma comunidade de pessoas que não sabem das coisas, mas que estão em constante aprendizado.

 

A educação deve ser praticada em nossas famílias e levada para a sociedade!

 

Que o Senhor nos ajude para que com sabedoria, possamos compreender os sinais dos tempos e percebermos as astúcias do maligno em querer nos tirar a graça a qual fomos chamados.

 

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo †

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