Homilia – 7º Domingo do Tempo Comum (20/02/2022) – “Quem perdoa é o primeiro a colher os frutos do perdão”

Meus irmãos e minhas irmãs, nós estamos na 7ª semana do Tempo Comum. Durante esse tempo recebemos uma verdadeira catequese, acompanhando os milagres e toda a vida pública de Jesus.

Aprendemos muito para trazer estes ensinamentos para a nossa realidade, de modo a vivermos como comunidade, família de Deus!

 

Neste Domingo, a liturgia nos faz refletir sobre o significado do PERDÃO e a compreendê-lo a partir da luz do AMOR FRATERNO, da Caridade!

 

O Evangelho (Lc 6, 27-38) de hoje é uma continuação das bem-aventuranças que ouvimos no Domingo passado.

Jesus diz: “bem-aventurados vós os pobres”! Por 4 vezes Jesus chama de bem-aventurados aqueles que foram desprovidos de tudo à luz deste mundo. E mais: por 4 vezes Ele ainda diz “ai de vós” – ai de vós todos os que têm os benefícios deste mundo, mas que acabaram se desviando de Deus!

 

Hoje, nesta continuação das bem-aventuranças, vemos que Jesus queria fazer o povo compreender o que é realmente necessário para viver os dons de Deus a partir de uma transformação da vida.

 

Por vezes, quando nós falamos do perdão, nos vem um questionamento quase que de imediato: será que eu perdoei aquela pessoa que me fez algum mal? Mas, se perdoei, por que ainda me lembro do ela fez?

 

É importante percebermos que perdoar não é perder a memória, pois se fosse assim, as pessoas que sofrem de esquecimento seriam as que mais perdoam!

 


Perdoar não é esquecer, mas viver como quem já superou aquela situação!


 

Quando alguém deixa de dar o perdão fica preso e a todo o momento se recorda do que aconteceu.

É como se a pessoa não conseguisse se livrar do tempo em que determinado fato aconteceu, por isso, ela fica aprisionada naquele sofrimento.

 

O perdão vem exatamente como uma bênção, um alívio para nos libertar de uma prisão espiritual e irmos adiante.

 


O perdão é tão libertador que mesmo que a pessoa que lhe causou algum dano continue agindo da mesma forma, você ainda colherá os frutos e os benefícios do perdão!


 

Quem perdoa é o primeiro a colher os frutos do perdão, pois se liberta do momento em que sofreu algo.

 

O perdão ainda permite continuar a vida e a caminhada com o coração purificado!

O perdão, além de libertador, favorece o crescimento e a mudança de mentalidade! Ele rompe com um círculo vicioso de vingança, de maldizer e de tantas outras coisas más. O perdão faz uma ruptura com o mal e nos prepara para recebermos as bençãos, o bem!

 

Na Primeira Leitura do Livro de Samuel (1Sm 26, 2.7-9. 12-13. 22-23) nós ouvimos o testemunho do perdão de Davi.

 

Davi estava sendo perseguido por Saul, que queria matá-lo! Em um determinado momento, Davi teve a oportunidade de chegar bem perto de Saul, quando ele e todos os seus guardas estavam dormindo.

 

Davi chega até ele e, ao invés de matá-lo, pega a lança de Saul e a leva consigo. Depois, diz para os soldados irem buscá-la.

Isso mostra que Davi teve a oportunidade de aniquilar, destruir o seu adversário! Mas, ele agiu com misericórdia: “não o mateis porque ele é um ungido do Senhor!”

 


É preciso que a pessoa tenha muita consciência, muita segurança para compreender a dinâmica do perdão e do amor fraterno para que, se colocando diante do outro, não aja com vingança e com ódio!


 

Até mesmo o pior dos bandidos, ou aquela pessoa que consideramos como a pior do mundo, não deixa de ser filho de Deus! Ninguém deixa de ser filho de Deus!

Não existe ex-filho de Deus! O que existe são filhos ingratos e que não reconhecem a misericórdia de Pai!

 

Deus é bondoso também para com os ingratos e maus, assim, por que é que nós temos que ser maus com as pessoas que nos causaram algum dano?

 

Se nós agirmos com maldade, estamos nos igualando ao mal e nós somos chamados a agir diferente: a agir com MISERICÓRDIA e AMOR, mesmo para com aqueles que nos fizeram mal! É isso é que nos diferencia!

 

No Salmo 102, ouvimos: o Senhor é bondoso e compassivo. O Senhor é compaixão e piedade, é retidão, é cheio de amor!

 

Nós precisamos perceber isso: SOMOS FILHOS DE DEUS! Somos dotados de toda essa misericórdia! E por isso, somos convidados a partilhar de tudo aquilo que Deus nos concedeu!

 


E então? Vamos viver como pessoas que não conhecem as Sagradas Escrituras? Como aqueles que nunca tiveram acesso à Palavra de Deus?


 

São Paulo, na Segunda Leitura (1Cor 15, 45-49), nos ajuda a refletir sobre a imagem do homem celeste:

Não fiquemos presos àquele homem terrestre que se deixou conduzir pelo pecado! Somos convidados a refletir a imagem do homem celeste, Nosso Senhor Jesus Cristo, que em tudo agiu fazendo o bem, promovendo a libertação do ser humano, dando o perdão, falando da misericórdia de Deus!

 

É por isso que no Evangelho que nós acabamos de ouvir, Jesus diz: “amai os vossos inimigos”!

 

Este versículo é muito forte: “amai os vossos inimigos”. Quando nós dizemos que amamos, nós estamos dizendo que temos bons sentimentos em relação ao outro. Amar, indica que há uma identificação com aquela pessoa!

 

Ao dizer: “amai vossos inimigos”, Jesus usa a palavra grega ‘Agapao’, ou seja, AMOR CARIDADE!

O Senhor nos convida a refletirmos o que significa agir com Caridade! O amor ‘Agapao’ é diferente: é um amor desprendido de sentimentos de posse, desprendido até mesmo de afinidades, de relações do dia a dia! É um amor que que reflete a Caridade, a misericórdia que Deus tem por cada um de nós!

 

Na oração do Pai Nosso nós rezamos: “perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”.

 


Ao compreendermos o amor Caridade, seremos capazes de compreender a oração do Pai Nosso: sermos perdoados na mesma proporção a que perdoamos aquele que nos fez algum mal.


 

Como podemos amar aqueles que nos causaram algum dano? O amor aos inimigos supõe boas ações, fazer o bem a quem nos fez o mal, ou seja, não ser vingativo!

Lembram do exemplo de Davi? Ele teve a oportunidade de tirar a vida de seu inimigo, mas não o fez! Amar aquele que nos fez algo de ruim significa agir de uma forma diferente!

 

Outro ponto em destaque no Evangelho é o ensinamento de Jesus sobre a importância da benção: se alguém me amaldiçoar eu devo abençoar!

Sabe quando alguém te diz: “você vai se dar mal! Você vai perder a sua vida!” Nestas situações, você deve responder: Deus te abençoe!

 


É não buscar o mal para aquele que te causou algum dano! Não falar mal da pessoa e não desejar o mal para ela! Mas, ao contrário, querer o seu bem!


 

Desse modo, vamos compreendendo como percorrer o caminho para o perdão e descobrimos a resposta para a pergunta: “será que eu perdoei?”

 


O termômetro para sabermos se perdoamos alguém está em conseguirmos rezar por ela, desejar o seu bem, sua conversão! Quando fazemos isso, estamos usando a misericórdia que Jesus nos pede!


 

No tempo de Jesus, o que imperava era a Lei do Talião. Esta Lei, consistia no direito de retribuir na ‘mesma moeda’ o mal recebido.

 

Jesus ensina aos seus seguidores a serem diferentes! Os discípulos de Jesus precisam ser diferentes dos judeus, dos fariseu e de qualquer outro grupo judaico da época!

 

Precisamos ser diferentes! Se não formos, o que estamos fazendo? Ora, no Evangelho Jesus diz: “se fazeis o bem somente aos que vos fazem bem, que recompensa tereis? Até os pecadores fazem assim”.

 


Jesus nos convida a darmos respostas diferentes! Por isso Ele insiste que devemos amar nossos inimigos, fazer o bem aos que nos odeiam e abençoar os que nos amaldiçoam.


 

Assim, Jesus nos ensina a vivermos as bem-aventuranças: “se alguém te bater num lado da face, oferece também o outro lado!”

 

O perdão é catequético e pode levar a pessoa que te fez mal a refletir, fazendo-a mudar de vida!

 

Jesus continua: “se alguém te tomou o manto, entrega também a túnica. Se alguém te pediu algo emprestado, espere para que te devolva.”

Esta é a grande regra de ouro que Jesus ensina: o que queres que os outros te façam, fazei primeiro a eles!

 

Hoje, nós poderíamos nos perguntar: o que estamos fazendo de diferente para testemunhar que nós compreendemos o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo?

 

Afinal, se nós não agimos diferente daqueles que não tiveram acesso às Sagradas Escrituras, dos que vivem no pecado e no erro, o que estamos fazendo de diferente?

 

Como cristãos batizados, discípulos e missionários do Senhor, devemos agir diferente! A nossa resposta deve ser diferente!

Nós devemos agir como quem compreende o significado das Sagradas Escrituras e da misericórdia, como um verdadeiro cristão!

 


Devemos viver a nossa fé em gestos concretos e não apenas em palavras, pois são nossas atitudes que transformam a realidade!


 

Que o Senhor nos ajude e que durante toda esta semana, ao nos depararmos com momentos de medo e de pecado, possamos dar respostas diferentes: perdoando e vivendo aqui a graça que Deus deseja para cada um de nós!

 

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo †

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