Homilia – 30º Domingo do Tempo Comum (24/10/2021) – DIA MUNDIAL DAS MISSÕES E DA PONTIFÍCIA OBRA DA INFÂNCIA MISSIONÁRIA
Meus irmãos e minhas irmãs, estamos no mês dedicado às missões e hoje, no dia Mundial das Missões, rezamos por todos os missionários e missionárias e pela Pontifícia Obra da Infância Missionária.
O missionário é uma pessoa diferente e que dá respostas diferentes, pois age de forma diferente!
Certa vez, falando para crianças da catequese, me perguntaram o significado de missão. E, após ter dado muitas explicações, uma criança me surpreendeu dizendo: “Padre, eu já sei o que significa missão! Missão é uma missa grande!”
De fato, o que dizia aquela criança é a mais pura verdade, porque a Missa não termina quando o padre diz: “Ide em paz e que o Senhor vos acompanhe”.
A Missa tem seu início na Igreja, mas continua quando saímos dela! Vamos com a Missa que celebramos para casa e para todos os lugares onde estivermos! Ela se torna missão de todos nós!
O Santo Padre em sua mensagem para este Dia Mundial das Missões e da Obra Pontifícia da Infância Missionária dizia que quando experimentamos a força do amor de Deus, reconhecemos a sua presença de Pai em nossa vida pessoal e comunitária!
O tema reservado para o mês missionário deste ano é JESUS CRISTO É MISSÃO e o lema “Não podemos deixar de falar sobre o que vimos e ouvimos!”. Estas palavras nos mostram que é preciso nos fazermos missionários para compreendermos a dinâmica de um Evangelho itinerante, como alguém que se coloca a caminho.
As leituras que são reservadas para esta Santa Missa, nos ajudam a compreender em profundidade como Jesus nos acompanha no caminhar da nossa história pessoal, na história da Igreja e de todo o que se faz missionário.
A Liturgia nos faz compreender que nos momentos de trevas e escuridão a Palavra de Deus sempre se apresenta como luz para iluminar o nosso caminho e a nossa fé.
Na Primeira Leitura (Jr 31,7-9), o profeta Jeremias anuncia um sinal de luz para o povo sofrido daquela época, que estava nas trevas do pecado, do medo e do exílio.
Ele dizia: “coxos e cegos, mulheres grávidas e as que deram à luz retornarão à Pátria, guiados por Deus que cuida deles com um cuidado especial, de Pai”.
Deus cuida de nós e precisamos ter consciência disso! E Ele não cuida como um administrador, mas como um Pai, totalmente inclinado para o AMOR!
Vamos perceber que este amor de pai é expresso em Nosso Senhor Jesus Cristo no Evangelho que ouvimos (Mc 10,46-52). Jesus está caminhando com seus discípulos e ensinando-os a ser missionários.
Quando nós caminhamos com alguém, costumamos partilhar a vida com esta pessoa. E ao caminhar com os apóstolos, Jesus não apenas ensinou, mas também escutou o que eles tinham a dizer!
Hoje, vemos Jesus saindo de Jericó e indo em direção a Jerusalém. Neste momento, um cego o “vê com os olhos da fé”. Este cego percebe que por ali está passando um homem diferente e por isso, começa a gritar: “Jesus, filho de Davi, tem piedade de mim”. A princípio, ele é chamado a ficar calado, mas insiste.
Jesus escuta a voz daquele que em meio à multidão clama por socorro e pede que o tragam para perto dele.
É interessante que o Evangelho tem um detalhe especial. Ao ouvir que o Mestre está chamando, o cego dá um pulo, joga o seu manto e vai ao encontro de Jesus. O manto, naquela época, significava a proteção de uma pessoa. Mas, este cego lança fora o seu manto. E ao dar um pulo, nos mostra que ele confiava plenamente naquele que o chamava! Ele deixa tudo de lado e vai até Jesus!
O diálogo imediato que se dá entre Jesus e o cego também é interessante, porque ele não se aproxima de Jesus para pedir comida ou moedas e sim, para ver!
Naquela época, uma pessoa com alguma necessidade especial era vista como alguém não agraciado por Deus. Assim, quando Jesus restitui a visão daquele homem, devolve a sua dignidade como alguém que é amado e cuidado por Deus! Alguém chamado a caminhar novamente!
O Evangelho nos diz que ele estava sentado à beira do caminho, estava à margem da sociedade, da religião e da dignidade. Jesus o traz para o caminho! Este cego foi iluminado por Jesus e tornou-se um seguidor do Senhor! Jesus não dá a ele apenas a luz para a visão, mas também a luz da fé!
Este episódio, mais do que uma crônica do caminhar de Jesus é para nós um ensinamento! Os apóstolos estavam cegos e necessitados de luz. Conseguiam aceitar Jesus como Messias, mas não conseguiam aceitar a ideia de que Jesus daria a sua vida na cruz pela humanidade.
Notem que o cego enxergava com a fé, enquanto os apóstolos não conseguiam enxergar dessa forma. Eles ainda estavam motivados pelos valores deste mundo. No domingo passado vimos a discussão dos apóstolos sobre quem seria o maior e se sentaria à sua esquerda e direita. Eles estavam cegos devido a uma mentalidade triunfalista!
Aqui, o cego consegue enxergar com os olhos da fé. Ele não vê, mas percebe a presença de Jesus e acolhe o Seu convite, por isso acontece o milagre!
Quem era o cego Bartimeu? Um homem marginalizado, como tantos outros que encontramos hoje nas portas dos comércios ou nos lugares de muita circulação de pessoas.
A cura de Bartimeu é mais do que a história de um cego. É um caminho de Fé para os que querem ver e seguir a Jesus! Não basta apenas ver, é preciso seguir a Jesus!
Nós também ficamos cegos quando nossa luz não é Jesus! Ficamos nas trevas quando damos mais atenção ao que é material! É preciso que estejamos atentos à passagem de Jesus Cristo, pois Ele passa por nós! Precisamos tomar consciência de nossa situação e nos decidirmos a caminhar com Ele! É preciso superar o medo, a vergonha e até mesmo começar a gritar, como aquele cego: JESUS, FILHO DE DAVI, TEM PIEDADE DE MIM!
Todo aquele que continua procurando a luz consegue encontrar Jesus!
Mesmo quando o povo manda que se cale, Bartimeu continua a pedir! E quando Jesus o chama, sua atitude é a de uma pessoa que sabe o que quer para sua vida. Ele abandonou tudo o que era supérfluo para seguir uma riqueza muito maior: JESUS!
Quais são os obstáculos que impedem tanta gente de enxergar? Quais obstáculos que nos impedem de encontrar Jesus? Quais obstáculos nos impedem de gritar por Jesus e dar um salto em direção a Ele?
No caminho do cego, algumas pessoas mandaram que ele se calasse, no entanto, outras disseram: “coragem, o Senhor te chama”. Na nossa caminhada, também encontramos pessoas assim: algumas nos dizem que não vale a pena rezar e outras nos motivam a irmos a Jesus!
Precisamos estar atentos às pessoas que nos chamam em direção a Jesus e também para aquelas que querem nos impedir de chegar perto Dele! Não podemos ficar na margem! Jesus escuta o grito do que sofre e por isso, não podemos silenciar!
O que nós podemos fazer para superarmos as cegueiras desta vida? Precisamos descobrir aquilo que nos deixa acomodados e perseverarmos, esperarmos e confiarmos em Deus! Precisamos seguir a Jesus em seu caminhar e aprender a escutar a Sua voz!
Como está nossa caminhada? Nos acomodamos diante das dificuldades? Preferimos ficar com as enfermidades, com a cegueira? Por que não temos a coragem ainda de dar esse pulo em direção a Jesus? Por que não temos coragem de jogar o manto, ou seja, as nossas seguranças, para irmos ao encontro de Jesus?
A liturgia de hoje nos convida a fazermos a experiência deste cego que disse a Jesus que queria ver para segui-lo! No dia em que rezamos pelos missionários, somos chamados a ver Jesus! Mas, não apenas vê-lo e sim, segui-lo! Não apenas participar da Missa, mas levar a Missa como uma missão em nossa vida, onde quer que estejamos!
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo †