Homilia – 15º Domingo do Tempo Comum (10/07/2022) – “O próximo, se torna próximo, quando nos aproximamos dele!”
Meus irmãos e minhas irmãs, estamos no 15º Domingo do Tempo Comum e a liturgia de hoje nos convida a refletirmos sobre a caridade que devemos fazer sempre, independentemente de onde estivermos.
A liturgia deste Domingo nos ajuda a compreender quem é o nosso próximo. Certamente, em algum momento de nossa vida, devemos ter feito esta pergunta: “o que devo fazer para chegar ao Céu”? Ou ainda: “Será que estou fazendo tudo certo para chegar à eternidade?”
Na resposta de Jesus, podemos compreender em profundidade que devemos ser comprometidos com a causa do Evangelho, sem esquecermos de colocar em prática o que aprendemos.
Na Primeira Leitura (Dt 30,10-14), vemos que quando o povo começa a esquecer tudo o que Deus fez, Moisés os recorda das obras providenciais do Senhor. Por isso o texto diz: “ouve a voz do Senhor teu Deus, observa todos os teus mandamentos”. E acrescenta: “esta Lei não está acima de tuas forças, mas bem perto de ti: em tua boca e em teu coração”.
Nós temos conhecimento da Palavra de Deus não apenas pela oração pessoal, mas também pela Liturgia que celebramos. Sabemos o que Deus deseja para a nossa vida, mas muitas vezes preferimos deixar de lado o que Ele pede de nós!
É preciso saber que não tem sentido apenas ESCUTARMOS a Palavra, se não a colocamos em prática e vivemos uma religião de ritualismos.
Se assim fizermos, viveremos apenas de aparências e é exatamente isso que Jesus quer fazer o povo compreender: antes de praticarmos os mandamentos, precisamos compreendê-los em profundidade para obedecê-los com AMOR!
Quando o Mestre da Lei pergunta a Jesus: “mestre, o que devo fazer para receber em herança a vida eterna?”, Jesus responde com outra pergunta: “o que está escrito na Lei?”
A forma como lemos e compreendemos a Palavra de Deus faz toda a diferença no seu cumprimento.
O que devo fazer para ganhar a Vida Eterna?
Para além dos mandamentos, os judeus ainda tinham 613 preceitos. Jesus resume tudo isso em uma palavra muito forte: AMOR!
O AMOR de que Jesus fala se desdobra em caridade, em amor ao próximo!
Não satisfeito com a resposta de Jesus, o Mestre da Lei ainda pergunta: “quem é o meu próximo?”
Esta pergunta foi inteligente, mas ao mesmo tempo capiciosa. O próximo é definido apenas pela distância? Ou pelos parentescos e afinidades que temos?
Jesus não dá a ele uma resposta direta, mas conta uma parábola: A PARÁBOLA DO SAMARITANO.
Naquela época, o samaritano era visto como uma pessoa que não conhecia a Deus, um pagão. Em outros Evangelhos vemos que eles eram tratados como cachorrinhos, não eram considerados filhos de Deus! Eram pessoas que não conheciam a Lei e nem as Escrituras.
Ao contar esta parábola, Jesus traz à tona a importância de não vivermos uma religião apenas de ritualismos.
Um homem estava descendo de Jerusalém para Jericó. Jerusalém era – e ainda é – a capital de Israel. Jericó era uma cidade de fartura. Até hoje ela é a cidade com a maior plantação e produção de tâmaras. É uma cidade onde há muita água, enquanto tudo em volta é árido. Ou seja, aquela era uma rota de comércio, um lugar transitado por pessoas que iam comprar e vender.
Na parábola, vemos de forma muito direta que aqueles que passaram pelo homem caído não agiram conforme a misericórdia de Deus. Aliás, eles não compreendiam a misericórdia!
No Evangelho (Lc 10, 25-37), lemos “certo homem descia de Jerusalém para Jericó e caiu nas mãos de assaltantes Um sacerdote estava descendo pelo caminho e quando viu o homem, seguiu adiante pelo outro lado. O mesmo aconteceu com o levita”.
Quem era o levita? Sabemos que o sacerdote judeu era aquele que celebrava a liturgia para o povo. O levita, por sua vez, era da tribo de Levi e estava no templo para ajudar e servir. Ele ficava junto ao tabernáculo, onde estavam as tábuas da Lei. Ambos eram pessoas que estavam sempre no templo, mas não haviam compreendido o significado da Caridade!
Por isso, quando Jesus pergunta ao mestre da lei: “na tua opinião, quem foi o próximo do homem que caiu nas mãos de assaltantes?”, ele responde: “aquele que usou de misericórdia”.
Notemos que ele não foi capaz de dizer: “foi o samaritano”, pois havia um preconceito muito grande com relação a este povo.
No entanto, é justamente o samaritano, alguém que não conhecia as escrituras e que não estava no templo, que age com Caridade! É este homem que se faz o próximo do necessitado!
O próximo, se torna próximo, quando nos aproximamos dele!
Esta proximidade se dá pelo contato, quando decidimos quebrar nossos preconceitos e nos aproximarmos da pessoa, conhecê-la, ver a sua necessidade!
Como precisamos de pessoas próximas e que ajam com Caridade para conosco! E mais, como precisamos ser o próximo das pessoas que mais precisam de ajuda!
A parábola que Jesus conta nos ajuda a compreender que a Vida Eterna é conquistada no amor a Deus e, esse amor precisa ser expressado, concretizado no mundo com as pessoas que convivem conosco!
O próximo é aquele que necessita da nossa ajuda, do nosso amor! É aquele que age com misericórdia, com compaixão!
A parábola que Jesus conta também nos propõe um exercício que deve ser constante em nossa vida: VER COM MISERICÓRIDA; TER COMPAIXÃO do sofrimento do outro, identificando-se com ele e; AGIR, perguntando-se o que pode ser feito para ajudar aquela pessoa.
Essas três atitudes faltaram ao sacerdote e ao levita, mas foi cumprida por aquele que não conhecia as escrituras e sequer era considerado filho de Deus.
O nosso testemunho deve ser diferente: quanto mais conhecemos a palavra de Deus e participamos da liturgia, mais devemos testemunhar através destas três atitudes: VER, TER COMPAIXÃO E AGIR.
O bom samaritano é todo aquele que é sensível ao sofrimento do outro! O nosso próximo é aquele que mais necessita da nossa ajuda!
Quanto mais nos aproximamos daqueles que precisam, mais eles se tornam o nosso próximo!
Em 2015, quando participei de um encontro para os religiosos, lembro-me do Papa Francisco dizer: “fiquemos atentos para que ao praticarmos a Caridade não nos revistamos de interrogações, pois não cabe a nós questionarmos o que o outro vai fazer com o que recebeu. O nosso papel é agirmos com Caridade e misericórdia!
Quantas vezes, ao darmos algo para alguém nos questionamos: “será que esta pessoa realmente precisa? “Será que não vai vender a cesta básica que ganhou”? Mas, lembremo-nos que o que será feito com a ajuda recebida é um problema de quem a recebeu. A nós, cabe apenas o exercício da Caridade.
O mais importante é cumprirmos a nossa missão, nosso dever como bons cristãos, conhecedores dos mandamentos e da palavra de Deus!
Aliás, os 10 mandamentos não estão em nossa vida para nos proibir de fazer algo, mas são verdadeiros conselhos para vivermos bem conosco, com os que convivemos e com Deus.
Providencialmente, O Evangelho de hoje caiu num momento muito oportuno. Temos aqui a presença do Terço dos Homens. Eles se reúnem todas as terças feiras às 19h30 para rezarem o Terço. Mas, não fazem apenas isso. São eles que recolhem as doações de alimentos trazidos pela comunidade, separam os produtos, montam as cestas básicas e, no último sábado do mês, entregam-nas para as famílias assistidas pela paróquia.
Eles fazem da oração uma expressão da Caridade ao próximo!
A missa de hoje é celebrada em Ação de Graças pelo Terço dos Homens e agradecemos a Deus por eles terem aprendido o significado da Caridade, não apenas pela oração, mas pela prática do amor ao próximo!
Que o Senhor os recompense sempre e de a eles a coragem e a generosidade para continuarem nesta bonita missão!
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo †