Homilia – Sexta-feira Santa – Paixão do Senhor (15/04/2022) – “O invisível se faz carne na nossa carne e assume-se como um ser humano até a morte e morte de cruz”
Meus irmãos e minhas irmãs, hoje é o dia da Paixão do Senhor! Se seguirmos mais alguns capítulos no Evangelho de João (Jo 18, 1-19, 42) que ouvimos, vamos vê-lo dizer: “aquele que viu dá testemunho e seu testemunho é verdadeiro!”
Ele estava lá, presente com Maria, a mãe de Jesus e as outras mulheres. Por isso, o seu testemunho é carregado de sentimentos! Ele estava aos pés da cruz, viu, ouviu, sentiu e transmitiu tudo o que aconteceu através de seu Evangelho.
Isso é muito profundo para nós! Esta tarde nos enche de um sentimento de tristeza muito grande que nos pede silêncio para podermos compreender o grande mistério da Paixão do Senhor!
O relato de João é muito rico em simbologias e cada detalhe tem sentido, de modo que possamos ver a riqueza deste momento!
Hoje, a igreja faz silêncio e é totalmente despida para que possamos entrar num clima de oração e estarmos atentos ao que celebramos.
O Profeta Isaias (Is 52, 13 – 53, 12) nos diz: “tão desfigurado estava que já não parecia ser um homem, ou ter aspecto humano. Como cordeiro, foi levado ao matadouro. Como ovelha diante dos que a tosquiam, ele não abriu a boca”.
Silenciou e deixou que o projeto de Deus acontecesse totalmente! A nossa fé não é uma reverência a um Deus distante e que não conhecemos. Mas, é uma adesão a uma PESSOA em suas duas naturezas: homem como nós e Deus!
O invisível se faz carne na nossa carne e assume-se como um ser humano até a morte e morte de cruz, pois quis sentir nossas dores em seu próprio corpo.
Na Carta aos Hebreus (Hb 4, 14-16; 5, 7-9), lemos: “ele mesmo foi provado em tudo como nós, com exceção do pecado. Aprendeu o que era a obediência em seu próprio corpo”.
São textos muito profundos e que nos fazem compreender que Deus se faz presente em nossa história! Ele se fez carne em nosso meio para que pudesse compreender as nossas limitações e para nós entendêssemos o quanto Ele nos ama!
A nossa oração de hoje não pode ser apenas para pedir. Devemos admirar com gratidão tudo o que Deus nos propiciou e ainda nos concede.
Jesus é o modelo que temos de imitar. Precisamos reproduzir em nós as suas atitudes, assim como ouvimos no Evangelho de ontem: “fazei conforme o testemunho que eu dei”.
Hoje, nós queremos lembrar de tudo o que Cristo fez por nós! E esse relato da Paixão do Senhor nos faz o resumo perfeito de tudo o que Jesus sofreu!
Vamos recordar as últimas frases de Jesus na cruz como se fosse um testamento para que coloquemos em prática o que Ele nos ensinou em sua obediência.
“PAI, PERDOA-LHES PORQUE NÃO SABEM O QUE FAZEM”.
O mesmo Jesus que nos ensinou a amar e nos revelou a Misericórdia de Deus, pede agora ao Pai que perdoe aqueles que o crucificam.
“HOJE ESTARÁS COMIGO NO PARAÍSO”
É o que Jesus diz para o ladrão que está crucificado ao seu lado. Ele quer que todos estejamos com Ele, pois Ele ama a todos e nos quer próximos! Jesus quer que todos estejamos com Ele na eternidade!
“MULHER, EIS AÍ O TEU FILHO”
“FILHO, EIS AÍ A TUA MÃE”
São as palavra que Jesus dirige à sua Mãe e a seu discipulado. Elas mostram o cuidado de Jesus com aqueles que Ele amava! Ele nos assume como irmãos e nos dá como mãe a Mãe Dolorosa.
Ele não nos deixa órfãos e nos dá aquilo que tem de mais precioso: SUA MÃE!
A expressão “discípulo amado” está no texto para que compreendamos que este discípulo é cada um de nós.
Nós podemos até supor que seja São João, mas o destaque está naquele que ama o Senhor, pois este também é amado por Cristo! O discípulo amado é aquele que vive o amor de Deus e tem a Virgem Maria por sua mãe.
“TENHO SEDE”
Este clamor de Jesus na cruz nos remete ao encontro que Ele teve com a samaritana: “Dá-me de beber”.
Jesus tem sede de salvar, de perdoar, de seu doar e de amar! E, ao mesmo tempo, Ele é a água que sacia nossa sede: “quem beber da água que eu darei, nunca mais terá sede”.
Neste momento, eles embebem uma esponja com vinagre e a colocam na boca de Jesus. Este ato tinha um significado: quando alguém era crucificado e lhe davam vinagre, o batimento cardíaco aumentava e assim, a pessoa morria mais depressa. Era isso o que queriam: que Jesus morresse mais depressa!
“MEU DEUS, MEU DEUS POR QUE ME ABANDONASTES?”
Ao contrário do que muitos pensam, neste relato segundo São Marcos, Jesus está rezando e não murmurando.
Isso nos mostra o Cristo de oração em um diálogo profundo com Deus e que nos dá o testemunho da importância da oração em nossa vida!
“TUDO ESTÁ CONSUMADO!”
Ele consumou a missão que o Pai confiou a Ele! “Por acaso, não vou beber o cálice que o Pai reservou para mim?” Por isso, mesmo diante dos insultos e das dores, o Cristo resiste!
“PAI, EM TUAS MÃOS EU ENTREGO O MEU ESPÍRITO”
Essa palavra do Evangelho mostra a entrega que Cristo faz de sua vida ao Pai. Mas, pode nos remeter também à entrega do Espírito Santo à Igreja, que continua a missão de Jesus no mundo.
Hoje, é um dia de silêncio, recolhimento e contemplação. E como é difícil calar ou diminuir o tom da nossa voz! Como temos dificuldade em silenciar para deixar que o Cristo fale mais alto em nós.
A entrega total de Jesus na cruz é a Sua a maior prova de amor por nós!
Que nesse dia, tomados por este amor e pelo sentimento de comoção e oração, tenhamos ainda mais a certeza do amor de Deus por nós!
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo