Homilia – Quinta-feira Santa – Ceia do Senhor (14/04/2022) – “A Eucaristia nos faz Igreja e a Igreja nos faz Eucaristia!”

Meus irmãos e minhas irmãs, que alegria podermos nos reunir nesta noite como família de Deus para celebrarmos esta Santa Eucaristia!

Após 2 anos sem celebrarmos presencialmente a Semana Santa, hoje devemos nos encher de alegria por estarmos aqui, na Missa da Ceia do Senhor!

 

Este é para nós o primeiro dia do Tríduo Pascal. Celebramos hoje a INSTITUIÇÃO DA EUCARISTIA, memorial da morte e ressurreição do Senhor que se desdobra em dois aspectos: a instituição do Sacerdócio Ministerial e o serviço fraterno da caridade.

 

A Liturgia desta noite nos convida a olharmos para a história do povo de Deus e contemplar o seu desejo de se aproximar Dele, após compreenderem o seu grande amor!

 

A Liturgia também nos mostra que através dos ritos nós nos aproximamos de Deus e de cada pessoa que é a imagem semelhança do Criador.

 

A Primeira Leitura (Ex 12, 1-8.11-14) nos narra como devia ser o ritual de comer a Páscoa para os -judeus.

Aqui percebemos um detalhe muito importante: se a família não fosse numerosa deveria chamar outras pessoas para comerem juntas. Isso nos mostra que a Páscoa da Libertação, já na antiguidade, era uma Páscoa inclusiva em que cada pessoa devia ser acolhida e bem vista na comunidade.

 

São Paulo, na Segunda Leitura (1Cor 11, 23-26) nos fala do memorial da última Ceia do Senhor, recordando “o que eu recebi do Senhor, foi isso que eu vos transmiti”.

 


A liturgia a que São Paulo se refere e que ele mesmo celebrou, é a mesma liturgia que hoje nos reunimos para celebrar!


 

No Evangelho (Jo 13, 1-15) contemplamos Jesus, que após fazer o seu discurso de despedida, lava os pés dos discípulos.

Já se imaginaram despedindo-se de uma pessoa, não apenas alimentando-a para caminhada, mas lavando os seus pés?

 

LAVAR OS PÉS tem um significado muito profundo: quando alguém chegava cansado tinha os seus pés lavados pelo seu servo. Era uma tarefa que cabia ao servo e não ao senhor! E mais: o senhor não lavava os pés do seu servo.

 

Aqui, Jesus assume um lugar de grande importância, como ouvimos nestes últimos dias nas leituras do Profeta Isaías: ele é o servo obediente, o servo sofredor que em tudo faz a vontade do Pai!

 

Jesus nos pede que façamos a mesma coisa que ele fez!

Devemos repetir o que Jesus fez naquele último gesto tão importante e testemunhal para nós, pois só quem ama é capaz de colocar-se a serviço do outro!

 

O lava pés deve ser o modo de viver da comunidade, de todos os cristãos e dos que querem seguir Jesus Cristo: “dei-vos o exemplo para que façais a mesma coisa que eu fiz”.

 

A Eucaristia como memorial do sacrifício de Jesus, nos é dada como alimento para alimentar a nossa capacidade de amar e perdoar! Ela nos fortalece para superarmos as dificuldades que se apresentam em nossa vida!

 

Esta presença REAL e SACRAMENTAL do Senhor ressuscitado no pão e no vinho, se estende também a nós que celebramos hoje esta Santa Missa. Não foi apenas um fato histórico que ficou no passado e, por isso, São Paulo nos faz compreender que esse rito é um memorial presente na nossa história, em nosso tempo!

 

Não se pode conceder a comunhão eucarística sem a referência aos nossos irmãos, particularmente os mais pobres e necessitados! Jesus é para todos! O Cristo veio para todos e não faz distinção entre as pessoas.

 


O gesto de Jesus ao lavar os pés é um gesto Eucarístico!


 

Ao levantar-se, tirar o manto, vestir o avental e lavar os pés, Jesus revela como devemos ser em relação aos nossos irmãos na comunidade.

 

Por isso, para ser coerente ao dom recebido, o sacerdócio ministerial deve ter como inspiração o gesto de Jesus na celebração de hoje.

 

 

Hoje pela manhã, todos os padres da nossa Diocese se reuniram como nosso Bispo na Matriz de Santo André para a Missa Crismal. Nela, renovamos as nossas promessas sacerdotais, feitas no dia de nossa ordenação.

Uma dessas promessas revela claramente a missão do padre: “quereis ser fiéis distribuidores dos mistérios de Deus pela missão de ensinar, pela Sagrada Eucaristia e demais celebrações litúrgicas, seguindo o Cristo Cabeça e Pastor, não levados pela ambição dos bens materiais, mas apenas pelo amor aos seres humanos?”. E nós dissemos: SIM!

 

Hoje, também o padre repete o gesto de Jesus lavando os pés dos discípulos. Nós não estávamos naquele dia da última ceia, mas estamos hoje na liturgia que celebramos e que se faz atual!

 

Vamos contemplar o gesto de Jesus e sua relação com nossa vida: VESTIR O AVENTAL significa revestir-se de simplicidade, de presença e de serviço aos irmãos! TIRAR O MANTO é um gesto de desprendimento, no qual arrancamos tudo o que possa impedir o serviço.

O manto impede a liberdade de movimentos. Ele também passa a imagem de poder e, Jesus troca o manto pelo avental! Quais são os nossos mantos? O que nos prende e nos impede de sermos servos? Costumamos vestir o manto ou colocar o avental? Nos colocamos numa atitude de serviço ou de poder?

 

O Cristo se LEVANTA DA MESA! Estar a mesa é muito bom! Mas, Jesus mostra que sempre há uma situação que nos espera, por isso, precisamos levantarmo-nos, pois não se pode servir permanecendo no comodismo!

 


Tal como Cristo, o sacerdote precisa levantar-se da mesa!


 

Nossa vida também é assim: há movimentos de partida e de chegada, momentos de serviço e momentos de oração e contemplação.

 

O Cristo fez tudo: levantou-se da mesa e tomou a bacia com água. Não podemos ficar apenas esperando uma atitude dos outros, temos de dar o primeiro passo!

 


Jesus não tem receio de se inclinar, ir até o chão para lavar os pés dos discípulos, numa atitude de servo e não de mestre.


 

Jesus não faz distinção de ninguém e lava os pés de todos! Aqui, os 12 discípulos representam a totalidade dos povos!

 

O Evangelho ainda nos diz que após lavar os pés dos discípulos, Jesus voltou à mesa, retomou o manto, mas continuou servindo.

 

Ele quer nos mostrar que seu discípulo deve ser sempre o servidor! Não se pode tirar o servir da vida cristã: “quem não vive para servir, não serve para viver”.

 

Em qualquer missão que assumimos precisamos colocar o avental, fazer-nos servos e compreendermos que precisamos ir ao chão para vermos o sofrimento, a limitação e o cansaço de nossos irmãos.

 

Sem o serviço, a comunidade pode se perder na missão, afinal, se não há servo, não há missão!

 

A Eucaristia foi instituída para formar um só corpo: o Corpo Místico de Cristo presente na Igreja!

O corpo e sangue de Cristo devem nos transformar em igreja: uma igreja viva, em saída, capaz de acolher para a missão e de abraçar a todos!

 

 

Por isso que o Espírito Santo transforma o pão e o vinho no Corpo e no Sangue de Cristo, para que a igreja celebrante e comungante se transforme no Corpo do Senhor!

 

Todas as vezes que comungamos renovamos a nossa missão como igreja!

Uma vez, uma criança me perguntou “padre, a missão é uma missa grande?” e eu lhe disse que sim! A missa não termina quando o padre diz “ide em paz e que o senhor vos acompanhe”. Ela continua quando cruzamos as portas da igreja!

 


A EUCARISTIA NOS FAZ IGREJA E A IGREJA NOS FAZ EUCARISTIA!


 

A comunhão eucarística nos compromete como membros do Corpo de Cristo! Assim, devemos estar atentos a todos os que precisam: os que passam fome, os que pecaram e estão afastados, os abandonados e todos os que padecem!

Desta forma, vamos compreender o exemplo que o Senhor nos deu nesse memorial!

 

Que assim como Ele nos amou, nós também amemos aos nossos irmãos através do serviço, não apenas no gesto de lavar os pés, mas através de um abraço de acolhida para participar da Eucaristia!

 

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo †

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