Homilia – 5º Domingo da Quaresma (03/04/2022) – “A Misericórdia de Deus é para todos!”

Meus irmãos e minhas irmãs, estamos no 5º Domingo da Quaresma. Esta é a última semana para a nossa preparação, pois no próximo domingo já iniciaremos a Semana Santa, que deve ser verdadeiramente Santa!

 

Neste dia, a Liturgia nos recorda que a Quaresma não é um tempo para atirar pedras e apontar as limitações e defeitos do outro. Do contrário, a Quaresma é um tempo oportuno para construirmos a fraternidade e compreendermos em profundidade a misericórdia de Deus!

Este tempo é propício para olharmos profundamente para nós mesmos e nos percebermos como necessitados da misericórdia de Deus.

 


O amor não condena, mas conhece as razões mais profundas do ser humano!


 

O pecado não se resolve com o castigo, a intolerância ou a indiferença e sim, pelo testemunho do amor e da misericórdia que deveríamos aprender de Deus!

 

As leituras deste Domingo, nos ajudam a compreender que não podemos ficar presos a mentalidades antigas e esquecermos o presente.

O presente pede de nós uma atitude diferente, afinal, nós fomos catequizados e evangelizados, tivemos acesso a misericórdia de Deus através de sua Palavra e dos testemunhos que ouvimos.

 

A Primeira Leitura tirada do livro do profeta Isaías (Is 43, 16-21), nos faz um convite à libertação através de um caminho penitencial.

 


Não podemos olhar para o outro como se fôssemos juízes, dando sentenças ou tecendo julgamentos. Somos chamados a fazer um caminho penitencial, onde olhamos para o nosso interior e compreendemos nossas fraquezas.


 

Por vezes, vivermos em um cativeiro espiritual que nos impede de ver a vida acontecer como um presente, um dom de Deus. Quando isso acontece, passamos a enxergar a vida como sofrimento ou castigo de Deus.

Esta é uma mentalidade antiga e precisamos sair desse cativeiro, pois ele nos oprime e nos impede de caminharmos em direção ao perdão e à reconciliação.

 

Nos dizia o profeta: “não relembreis coisas passadas, não olheis para fatos antigos. Eis que eu farei coisas novas!

 

O profeta nos convida a olharmos o presente e vermos a necessidade que temos de mudar, ao invés de nos apegarmos a coisas antigas, a sofrimentos e mágoas que ficaram no passado e que não devem ser trazidas para o presente

 

São Paulo também nos adverte em sua carta aos Filipenses (Fl 3, 8-14) ao dizer que tudo perde o valor quando nós conhecemos verdadeiramente a Jesus Cristo.

 

Muitas coisas acabam nos afastando do que é realmente importante em nossa vida! Quantas vezes criamos amarras que nos impedem de irmos adiante! Por isso, São Paulo diz: “uma coisa porém eu faço, esquecendo o que fica para trás eu me lanço para o que está à frente”

 


Se ficarmos presos ao passado jamais conseguiremos contemplar a graça e a misericórdia de Deus que está a nossa frente.


 

O olhar que Jesus tem para o ser humano é um olhar de misericórdia e que promove a salvação. Ele não nos deixa presos e estagnados, mas nos liberta e nos faz valorizados, compreendidos, amados e reconhecidos como importantes!

 

No Evangelho (Jo 8, 1-11), vemos Jesus mostrar que a misericórdia de Deus transforma e recupera a pessoa. E, recupera muito mais do que as punições e sentenças.

Olhando para a nossa infância, como gostaríamos que nossos pais ao invés de nos castigar com uma surra nos dessem um abraço ou algum conselho!

A misericórdia de Deus não vem para nos chicotear, mas para nos compreender e dizer: os teus pecados estão perdoados.

 

O texto do Evangelho diz que Jesus, depois de rezar foi para o Templo. Os escribas estavam lá, vigiando-o e procurando um motivo para acusá-lo.

 

Trouxeram então uma mulher surpreendida em pecado de adultério e, segundo a Lei de Moisés, tais pessoas deveriam ser apedrejadas.

Eles aproveitaram aquela situação para comprometer Jesus e testar a sua fidelidade à Lei: devemos perdoá-la ou apedrejá-la?

 


Neste momento, Jesus tem a oportunidade de revelar uma atitude misericordiosa de Deus diante do pecador e do pecado cometido.


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Jesus não aceita uma Lei que, em nome de Deus, gere morte. Por isso, ao invés de responder imediatamente, Ele fica em silencio e se põe a rabiscar o chão.

 

Diante da insistência dos acusadores, Jesus se levanta e diz: “quem não tiver pecado atire a primeira pedra

 

Em seguida, volta a inclinar-se e a escrever no chão.

A Tradição da Igreja, em uma de suas interpretações, diz que neste momento Jesus estava escrevendo o pecado de cada um deles, pois ele conhece em profundidade cada pessoa. Ao perceberem que Jesus escrevia os seus pecados no chão, eles ficaram constrangidos.

 

Também podemos interpretar esse gesto de Jesus como se ele se mostrasse indiferente à dureza do coração deles.

 

Com isso, vemos que aqueles que eram os cumpridores da lei ficam envergonhados e começam a sair um a um, a partir dos mais velhos, afinal, quem mais viveu teve mais oportunidades de errar. No entanto, também teve mais oportunidades para se converter e receber a misericórdia de Deus!

 

Só ficou a mulher e Jesus pergunta lhe: mulher, onde estão todos? Ninguém te condenou? Se ninguém te condenou, eu também não te condeno. Vá em paz e não pegues mais.

 

A Lei Judaica realmente dizia que quando uma pessoa fosse pega em adultério deveria ser levada diante de duas ou mais testemunhas para ser apedrejada.

Mas, onde estava o homem que cometeu adultério com ela? Afinal, ninguém comete adultério sozinho. Desse modo, eles cometem também um pecado contra a Justiça!

 

Para apedrejar aquela mulher, eram necessárias duas ou mais testemunhas. Mas, como não ficou ninguém, não se podia apedrejá-la.

A MISERICÓRDIA DE DEUS É PARA TODOS!

 

A Lei Romana não permite a punição de morte, apenas a Lei Judaica. Ao colocarem Jesus a prova, eles queriam ver se Ele era fiel a Lei Romana ou Judaica.

Mas, Jesus não se deixa levar por leis humanas. A sua lei é a misericórdia!

 

Vai e não peques mais! Aquela mulher certamente ficou assustada diante da possibilidade de sua morte e admirada ao ouvir da boca do próprio Filho de Deus: “eu também não te condeno”.

 

Jesus defende e promove a liberdade absoluta do amor de Deus! Esse amor não condena, pois conhece as razões profundas do ser humano. Por isso ele nos salva!

 


O pecado gera a morte, já o amor misericordioso regenera o coração endurecido, doente e corrompido!


 

O amor abre as portas da paz, edifica a liberdade e salva cada pessoa que se aproxima humildemente de Deus! O mais importante é a conversão da pessoa e não a sua condenação.

 

Ainda hoje, no Sacramento da Reconciliação, Deus continua dizendo através do sacerdote: “teus pecados estão perdoados vá em paz e não peques mais. Eu te absolvo em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo”.

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Deus continua nos perdoar, independentemente de qual seja o nosso pecado, pois não existe pecado maior que a misericórdia de Deus por nós!


 

Assim, vemos em Jesus um rosto de justiça e misericórdia! Ele não quer a morte do pecador, mas a sua plena libertação.

A força de Deus não está no castigo, mas no amor.

 

Hoje, somos convidados a agir com a mesma misericórdia que Deus tem para com cada um de nós. Assim, devemos nos perguntar: há pedras em suas mãos para serem atiradas em alguém que julgamos culpado? Se a resposta for ‘sim’, então, está na hora de jogá-las fora e nos apegarmos à graça de Deus.

 

O Cristo, ao rabiscar o chão, também pode apresentar os nossos pecados, nos fazendo perceber que também somos limitados. Por isso, ao invés de atirarmos pedras, somos chamadas a propagarmos o amor e a misericórdia, para que possamos compreender o amor de Deus por cada um de nós.

 

Que nesta semana continuemos a nossa preparação para no Domingo seguinte iniciarmos a Semana Santa!

 

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo †

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