Homilia – 29º Domingo do Tempo Comum (17/10/2021) – “Quem se faz servo e coloca sua vida a serviço, vê a multiplicação da alegria verdadeira em seu ser”
Amados de Deus, a cada domingo que nos reunimos como família de Deus para celebrarmos a Eucaristia renovamos o nosso compromisso de vivermos constantemente em comunidade. Independentemente de estarmos fisicamente na igreja ou não, somos comunidade!
Esta experiência de uma comunidade que vive a graça de Deus deve nos acompanhar constantemente para que possamos testemunhar nosso batismo e a fé que abraçamos!
A liturgia de hoje nos convida a refletir sobre a autoridade, não apenas a autoridade de Jesus, mas também a autoridade que nós temos na família, na comunidade, no trabalho e onde quer que estejamos.
Jesus, em seu tempo, criticava duramente a mentalidade de grandeza que existia. Criticava a ideia da Teologia da Prosperidade, onde os que tinham muito eram agraciados por Deus e os pobres e pequenos eram esquecidos de Deus.
Jesus rompe com esta mentalidade mesquinha porque Deus olha sempre para os pequeninos e para os que se fazem servos, colocando suas vidas as serviço.
A prova disso, está nos textos reservados para nós neste domingo.
A Primeira Leitura (Is 53, 10-11) , tirada do livro do Profeta Isaías, nos fala do servo sofredor, que foi desprezado pelos homens, mas por meio de quem se revelou a salvação de Deus.
Isaias escreve este texto 7 séculos antes de Jesus nascer, já anunciado como seria o Messias Salvador.
Enquanto todos esperavam um Messias numa carruagem de fogo e que nascesse em um berço de ouro, Jesus nos é revelado como o oposto: simples, nasce numa manjedoura entre os pobres e vive como um servo sofredor.
Isso nos faz compreender que a simplicidade e a humildade não são aos olhos de Deus sinônimo de uma vida perdida ou fracassada, do contrário, significam uma vida plenamente realizada e que, em Jesus, trará libertação e esperança ao povo, tão carente de Deus!
Meus irmãos, a felicidade e a importância de uma pessoa não estão pautadas na autoridade que ela tem ou nos bens que possui. A felicidade é gerada dentro do coração por conceber a graça de Deus!
Quando fazemos uma boa ação e colocamos nossa vida a serviço, surge em nosso coração uma alegria enorme! Esta alegria nos vem pela prática do bem.
A caridade provoca dentro de nós uma alegria tão profunda que por mais que ganhássemos qualquer prêmio, essa alegria jamais seria superada! Quem se faz servo e coloca sua vida a serviço, vê a multiplicação da alegria verdadeira em seu ser.
Na Segunda Leitura (Hb 4, 14-16) da carta aos Hebreus, o autor nos fala que Deus ama tanto o ser humano que assumiu a sua condição.
Com isso, percebemos que mais uma vez a Teologia da Prosperidade cai por terra, pois Deus assume a condição humana e vive com simplicidade e humildade para mostrar que é muito bom fazer-se servo.
Jesus não se esconde no poder que Ele tem, mas aceita descer ao nosso encontro para oferecer o seu amor, e um amor sem limites!
Depois de entendermos estas duas leituras e lermos o Evangelho (Mc 10, 35-45), temos a impressão de que os discípulos nada compreenderam do ensinamento de Jesus.
No caminho para Jerusalém Jesus anunciava o seu sofrimento e morte na cruz. Os discípulos, por sua vez, começaram a se perguntar quem seria o mais importante e assumiria a liderança do grupo.
Assim, dois deles, Tiago e João, se aproximam do Senhor e pedem que um se sente a sua direita e outro a sua esquerda.
Eles não compreenderam a missão de Jesus e pedem exatamente o oposto daquilo que o Senhor lhes havia ensinado. Estão distantes da mentalidade de Jesus!
Então, Jesus lhes fala das exigências do Reino e das condições para fazer parte de Sua comunidade: ser servo.
Numa comunidade não podem ter muitas pessoas que mandem, pois o mais importante são os servos! Uma comunidade sem servos não cresce e não prospera. Se as pessoas tiverem uma mentalidade triunfalista e buscarem apenas o poder, a comunidade não vai para frente e só haverá disputas por cargos.
Para não se deixar levar pela mentalidade de poder Jesus adverte o seu discipulado! Ele pede que façamos da vida um dom de amor, um serviço ao irmão!
Os dois discípulos pedem para ser importantes e a resposta de Jesus é bem direta: “vós não sabeis o que pedis. Podeis beber o cálice que eu vou beber? Podeis ser batizados com o batismo que eu serei batizado?”
Hoje também nós podemos nos perguntar se sabemos o que estamos pedindo a Deus. Aqueles dois discípulos disseram que sabiam o que pediam e que queriam aquilo. Eles não entenderam a pergunta de Jesus e por isso disseram: “podemos”. Mal sabiam eles que tal com o Mestre, seriam martirizados e que aquele batismo, seria um batismo com sangue a ser derramado.
Os outros apóstolos ficaram indignados com o pedido de Tiago e João, certamente porque tinham as mesmas pretensões e devem ter ficado com ciúmes e inveja.
Estes dois discípulos também se parecem conosco. Por vezes, quando descuidamos da oração, esquecemos que somos servos e queremos assumir o domínio. Por isso, a constância na oração é importante.
A procura pelos primeiros lugares pelos dois irmãos causa uma certa inquietação, mas acima de tudo nos mostra que essa mentalidade ainda se faz presente em nossas vidas e deve ser superada!
O que tem autoridade é o que tem a missão de servir e colocar sua vida a serviço!
Jesus pensa na sua morte, que já está próxima, e que vê os apóstolos ainda têm desejos de grandeza e ambição pelo poder. Ele então, convida os discípulos a não se deixarem levar por sonhos de domínio e chama-os a fazerem de suas vidas um dom de amor e serviço.
Jesus ainda aproveita a ocasião para ensinar o sentido da autoridade como um serviço e não como um privilégio. A procura por privilégios sempre gera conflitos e o poder, quando não é assumido como uma missão, acaba dividindo, separando e discriminado aos outros.
É por isso que no fim do Evangelho Jesus nos apresenta seu exemplo: “o filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos”.
Esse é o testemunho que Jesus nos dá! As palavras Dele não deixam qualquer dúvida de que quem quiser ser o primeiro, deve ser o último e servo de todos!
Mas, com muita frequência imitamos a atitude dos discípulos. Achamos que temos o direito a algum tipo de vantagem ou ficamos esperando reconhecimentos, quando na verdade, somos servos!
Na comunidade, não deve ter privilégios, pois as pessoas são todas importantes! Jesus nos aponta o caminho para a humildade: no serviço ao próximo!
Como estou exercendo a minha autoridade em minha casa, na comunidade e no trabalho? Faço isso buscando privilégios ou buscando servir a todos? Se você, com sua autoridade, busca servir a todos está na direção certa! Pois, o Filho do homem não veio para servir, mas para ser servido!
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo †