Homilia – 23º Domingo do Tempo Comum (05/09/2021) – “A Bíblia é a Palavra de Deus e todos nós necessitamos dela, todos!”
Meus irmãos e minhas irmãs, estamos no mês dedicado à Palavra de Deus. Em setembro de 1971, há 50 anos, pela primeira vez foi celebrado o Mês da Bíblia, após instituição da CNBB. A partir daí, a cada ano é escolhido um livro da Bíblia para ser lido e refletido durante o mês de setembro. Este ano, o livro escolhido foi a Carta aos Gálatas.
O que significa a Bíblia? Esta palavra vem do grego e significa “livros”. Mas não são quaisquer livros e sim, livros sagrados, que contam a experiência de um povo que viveu a graça de Deus e de um Deus que se fez presente na história e na vida de um povo. Por isso, este livro sagrado merece toda a nossa reverência! Não se trata de um livro histórico ou poético, mas da própria Palavra de Deus!
No ano de 366, o papa Damaso viu que havia uma grande necessidade de se traduzir os textos bíblicos que ainda estavam em grego e hebraico. E então, chamou o Padre Jerônimo para que traduzisse os textos sagrados para o latim.
São Jerônimo passou cerca de 35 anos traduzindo esses textos. Mudou-se para a cidade de Belém na Terra Santa e viveu na gruta onde Jesus nasceu, em espírito de oração e penitência para traduzir os textos. Todas as Bíblias que temos hoje, em todas as igrejas cristãs, católicas ou não, são fruto desse trabalho!
Hoje, a liturgia nos convida a abrir os ouvidos e os lábios para anunciar a Palavra de Deus. Para anunciar esta Palavra é preciso um exercício: abrir os ouvidos, deixar que a palavra entre em nosso ser e nos provoque para que possamos anunciá-la.
A Palavra que chega ao nosso coração precisa transformar a nossa realidade! Ela não pode chegar a nós e continuarmos da mesma forma, pois quem ouve com amor a Palavra de Deus tem sua vida transformada!
Quando vamos proclamar a palavra traçamos três vezes o sinal da cruz sobre nós: em nossa fronte, na boca e no peito. Cada vez que fazemos isso estamos pedindo ao Senhor que esteja em nossa mente, para bem entendermos a palavra, em nossos lábios, para anunciá-la, e em nosso coração, para que seja guardada.
Na Primeira Leitura (Is 35,4-7a), o profeta Isaias diz que é preciso anunciar ao povo sofrido que a cura e a libertação estão próximas! Para os judeus, os sinais anunciados pelo profeta, como a cura do surdo, do coxo e do mudo revelariam a presença do Messias Salvador. O profeta já anunciava que o Messias viria promover a libertação do gênero humano!
As curas de Jesus são muito mais que curas, são libertações! Ele liberta o ser humano não apenas de uma doença física, mas também da enfermidade espiritual! Aquele que é curado, é curado na totalidade: física, espiritual e socialmente.
Na Segunda Leitura (Tg 2,1-5), São Tiago nos convida a fazermos a experiência da acolhida, não apenas da Palavra, mas da pessoa, independentemente de quem seja, da mais pobre à que tem mais condições.
No Evangelho (Mc 7,31-37), vemos que Jesus Cristo é a plena realização do que anunciou Isaias na Primeira Leitura. Jesus abre os ouvidos e solta a língua do surdo-mudo. O povo fica entusiasmado e, por mais que Jesus peça para que eles não contem o que aconteceu, eles saem anunciando seus milagres!
Aqui, aparece Aquele que vem resgatar todo o gênero humano! O poder do Messias Salvador se faz presente na história do povo, por isso eles dizem: tudo ele tem feito bem!
Jesus é o Senhor da História! O que vem para mostrar que o dedo de Deus toca exatamente o lugar de onde deve sair a Palavra que edifica! Toca os ouvidos, para que escutemos a Palavra e ela transforme a nossa realidade, nossa vida! Deus nos toca de uma forma diferente! Nos chega ao coração de uma forma diferente! Nos faz ouvir e falar de uma forma diferente!
Devemos ainda lembrar que sem humildade não podemos falar o que Deus quer! Sem humildade falaremos apenas de nossas vaidades e das coisas deste mundo!
Pensemos: o que seria de nós se não fosse a Palavra? A Bíblia é a Palavra de Deus e todos nós necessitamos dela, todos: crianças, adultos e idosos!
Como precisamos de palavras que edifiquem! Que nenhuma palavra perniciosa saia de nossa boca, mas apenas palavras que edifiquem! É essa palavra que precisamos! Palavras que edifiquem nossas vidas e nossas famílias!
Apesar disso, no mundo há muitas palavras vazias e nós não devemos ser assim! Nossa palavra deve carregar todo o sentido da verdade e profundidade de um Deus que se comunica com seu povo!
Deus também faz uso da palavra e, por isso, se faz Palavra da pessoa de Jesus para estar em nosso meio. Esta palavra ainda continua a ser lida através da Bíblia. Isso que nos recorda São Tiago ao dizer: acolhei com humildade a palavra que foi plantada em seu coração.
Hoje, somos chamados a fazer a experiência de reconhecer quem são os verdadeiros surdos-mudos! O surdo-mudo é uma pessoa incapaz de escutar e falar! Quem são os surdos-mudos de hoje? São os que ficam indiferentes à Palavra de Deus, vivem fechados em seu mundo e indiferentes a Deus e aos irmãos.
Que neste dia, iniciando o mês da Bíblia, possamos olhar com muito carinho para a Palavra de Deus e aprendermos com ela a viver esse grande mistério de Deus presente em nossa história!
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo †